Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana

Verbete-C Carola Engomada 

A Ironia também faz parte da cultura baiana e por conseguinte do território da sua culinária, é o que vemos neste prato, pouco conhecido, a Carola Engomada, hoje pouco visto em nossa mesa.

Segundo a folclorista Hildagardes Vianna, em seu celebre "A Cozinha Baiana, seu folclore-suas receitas-1951
A Carola Engomada, era preparado com goma de tapioca, que também fazia parte do universo feminino nas lides domesticas da época, na utilização para engomar as roupas, as rendas e os linhos. 



Bom lembrar que o livro tem edição de 1951, e muitas receitas estão em libras: Bate-se 12 gemas com uma libra de açúcar e uma libra de manteiga. 
Acrescenta-se uma libra de goma seca e um copo de vinho branco, sem para de bater.Estando tudo bem ligado, acrescenta-se 12 claras um pouco de erva doce e nós moscada. Assa-se em forminhas, em formo quente. 
*1 libra corresponde a 0.463gm. 

Carola é uma gíria, usada na linguagem coloquial brasileira, que descreve uma pessoa muito ligada às práticas religiosas, servindo também de forma pejorativa, para caracterizar pessoas hipócrita, que se diz seguidora de práticas religiosas severas, mas não as segue efetivamente. 

A "falsa beata" seria esta criatura empoada e cheia de melindres, ao contrario das pessoas realmente envolvidas com a religiosidade e a fé, pois a natureza concede o tempo necessário ao que realmente é importante na vida, exigindo que cada ser humano organize bem o seu tempo. 

A Carola Engomada é um tipo de Brevidade, um docinho suave feito a partir da Goma da Tapioca, fofo e delicado, muito comum nos chás das mesas baianas do seculo passado. Brevidade vem do latim "brevitate", de "brevitas" designação do que é breve, tem curta duração é fugaz. Uma das características destes bolinhos talvez faça uma relação entre seu tempo de preparo e a rapidez com que fica pronto.

Brevidade da vida é a obra mais difundida do filósofo Lúcio Anneo Sêneca, o Jovem (4 a.C.? - 65 d.C.) e um dos textos mais conhecidos de toda a Antigüidade latina.
São cartas dirigidas a Paulino (cuja identidade é controversa), nas quais o sábio discorre sobre a natureza finita da vida humana. 


Embora pagão, Sêneca demonstra através deste livro que ninguém nasceu para o tempo presente, mas, para ingressar na esfera celeste, frisando que cada ser humano tem a obrigação de reservar tempo para si próprio evitando futilidades e buscando a real riqueza que é a interioridade de virtudes. 



No livro, são desenvolvidos temas como aprendizagem, amizade, livros e a morte, e, no correr das páginas, vão sendo apresentadas maneiras de prolongar a vida e livrá-la de mil futilidades que a perturbam sem, no entanto, enriquecê-la. Escritas há quase dois mil anos, estas cartas compõem uma leitura inspiradora para todos os homens, a quem ajudam a avaliar o que é uma vida plenamente vivida. "Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. 


Seneca
A vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização de grandes tarefas. (...) Desse modo, não temos uma vida breve, mas fazemos com que seja assim. Não somos privados, mas pródigos de vida. 
Como grandes riquezas, quando chegam às mãos de um mau administrador, em um curto espaço de tempo, se dissipam, mas, se modestas e confiadas a um bom guardião, aumentam com o tempo, assim a existência se prolonga por um largo período para o que sabe dela usufruir."
Seneca Sobre a brevidade da vida. 


Sincretismo e Miscigenação na Bahia. 

Até o limiar dos anos de 1930 o que se poderia chamar de historiografia brasileira tratava, pois, a miscigenação, não como problema de investigação, mas como problema moral ou patológico que cabia resolver para o bem da Nação. 

Arthur de Gobineau é considerado uma das figuras históricas mais polêmicas e controversas pelos seus pensamentos. 
Ele tornou-se Ministro da França no Brasil como eram chamados os embaixadores a total contragosto, diga-se de passagem, em 1869. Alegava que sua nomeação a esse cargo o obrigava a se separar da família e de Paris, além de obrigá-lo a conviver com uma população mestiça, algo para ele abominável. Leia mais:A Miscigenação do Brasil sob o olhar de Gobineau .

A problemática da mescla cultural na história do Brasil foi colocada em nossos horizontes de investigação desde os começos da historiografia nacional. Apareceu pela primeira vez, sob o rótulo da “miscigenação racial”, como proposta vencedora do concurso promovido na década de 1840 pelo recém-fundado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Formulou-a o alemão Karl von Martius, naturalista, botânico, viajante que deixou preciosos registros sobre a natureza e as gentes do Brasil no século XIX. 
Em Como se deve escrever a história do Brasil, Martius afirmou que a chave para se compreender a história brasileira residia no estudo do cruzamento das três raças formadoras de nossa nacionalidade – a branca, a indígena, a negra –, esboçando a questão da mescla cultural sem contudo desenvolvê-la.
Martius, como naturalista ilustrado, pensava o “hibridismo racial” do mesmo modo como pensava o cruzamento de plantas ou animais, porém sua relativa sensibilidade etnológica fê-lo ao menos rascunhar o que já se chamou de “sincretismo” cultural e atualmente se formula como circularidades ou hibridismos culturais. É verdade que o naturalista alemão priorizou a contribuição portuguesa na formação da nacionalidade brasileira e praticamente silenciou sobre o papel da “raça” negra, para usar o seu vocabulário, reservando ao índio – um tanto idealizado, vale dizer –papel secundário. Mas não resta dúvida de que, já com von Martius, a questão da miscigenação étnica e cultural estava posta. 
Seria mesmo caso de ressaltar a paradoxal abertura intelectual do IHGB ao premiar proposta que, malgré o conservadorismo do autor, apontava para questão desafiadora, admitindo, ao menos em tese, o papel do negro na formação do povo brasileiro – e isto num tempo em que os africanos e seus descendentes eram escravos, sem direito à cidadania no nascente império brasileiro. 

No trabalho A RELIGIOSIDADE NO BRASIL COLONIAL: O CASO DA BAHIA (SÉCULOS XVI-XVII) da Historiadora SUSANA LEANDRO DE MELO, aborda a cultura do Barroco, um tipo de cultura específica que se procurou transplantar para o Brasil, entre os séculos XVI e XVII, podendo-se entender o aguçamento da religião, tanto em relação aos portugueses (colonos) quanto ao clero. O Barroco se consagrou como um período de exageros religiosos, e em decorrência disto, a religiosidade acabou tomando vários direcionamentos, como é o caso do hibridismo e da intolerância inquisitorial. Este momento de fervor ajuda a compreender o fenômeno religioso da religião e religiosidade na Bahia onde a religiosidade acabou tomando vários direcionamentos, como é o caso do hibridismo e da intolerância inquisitorial.
Este momento de fervor ajuda a compreender o fenômeno religioso da religião e religiosidade na Bahia. A religiosidade no Brasil Colonial: o caso da Bahia (séculos XVI e XVII), tendo como recorte histórico o Brasil colonial, no âmbito de Salvador e do Recôncavo, tendo como plano de fundo a Primeira e Segunda Visitações do Santo Ofício ao Brasil, realizadas nos anos de 1591 e 1618. 





















A temática religiosa e inquisitorial chama a atenção pelo interesse em conhecer a religião e as vivências religiosas, experimentadas por parte de uma cultura, às quais, na medida em que são desvendados os comportamentos individuais e sociais, tornam possível uma melhor inteligibilidade da vida do colono brasileiro.

Importante fazer referência à distinção entre a religião institucionalizada, representada pelo cristianismo difundido pela Igreja Católica, e, a prática de uma religião individual, especificamente em se tratando, da Companhia de Jesus e das crenças que os indivíduos interiorizavam. Este tipo de crença individual, que estava relacionada à cultura que fora trazida do além-mar, encontrou um ambiente relativamente favorável à criação de alternativas religiosas, as quais acabaram sendo utilizadas para escapar das tensões sociais provocadas pelo sistema escravista colonial e pela política anti-herética difundida pela Inquisição. 

O ambiente que melhor retrata as constatações acima descritas é a Bahia colonial, além de ter sido a sede da primeira organização administrativa e eclesiástica da colônia brasileira. 
Deve-se lembrar, nesse contexto, que a missão eclesiástica de trazer a civilização ao novo mundo ocorreu através da utilização dos nativos da terra, e para tal propósito, foi construída uma estrutura cooptadora de fiéis que contava com o apoio da Coroa. Com o propósito do resgate indígena, a Companhia conseguiu transformar o meio físico instalando aldeamentos, que muito serviram aos propósitos coloniais, mas que, com o passar do tempo e através das políticas indigenistas, se transformaram em um meio de proteção aos indígenas. 
Contudo, essa escolha foi muito cara aos Jesuítas, que acabaram sendo expulsos por contrariar o poder real, revoltando a população a qual não se beneficiava com os trabalhos indígenas, devido estarem sob organização dos clérigos. Este parêntese político reflete a turbulência das relações sociais e políticas naquele período. Não é difícil perceber o porquê da população, manifestar de forma tão particular, a sua religiosidade, afinal, o próprio clero estava cheio de imperfeições que distorciam a sua natureza religiosa. Assim como os colonos, muitos clérigos, que compunham os quadros da Igreja, possuíam que, mais tarde, esta mesma instituição puniria tais atos, como ocorreram durante a apuração realizada pelo Santo Ofício através das Visitações.

Fontes:
Colonização, miscigenação e questão racial: notas sobre equívocos e tabus da historiografia brasileiraRonaldo Vainfas

Comentários

Postagens mais visitadas