Pequeno Dicionário da Cozinha Baiana
Verbete-A Angu Incubado
Angu é uma comida
típica da culinária afro brasileira.
No Brasil e em particular na
Bahia ganhou sobrenome (incubado), pois esconde uma série de iguarias no seu
interior, tais como pedaços de carne, frango, língua, miúdos do boi, etc e é
preparado geralmente com fubá (farinha de milho), de arroz ou farinha de
mandioca.
O Angu é muito apreciado no nordeste brasileiro e além de
saboreado, sua nomenclatura (Incubado) nasceu nas rodas de boêmios dos bares
baianos geralmente de esquerdistas, onde é utilizada para mil e umas ironias,
pois nunca aparenta o que é.
“Angu Molinho”, um destaque para este preparado, que se
refere ao preparado feito menos denso onde se colocava alho para crianças
enfermas, também chamadas de “Mingau de Cachorro”, outro
preparado de destinava aos furúnculos, típicos da infância, onde se faziam
cataplasmas de angu, sendo colocados sobre os mesmos.
Na Bahia, faz-se o angu preparado com farinha de mandioca
“Farinha de Guerra”, misturada a uma parte liquida e uma parte graça: Água ou
caldo do elemento desejado, temperado e cozido até o ponto cremoso.
Normalmente
acompanha escaldados de peixe, onde podem ser acrescidos quiabos e outras verduras,
onde ao final coloca-se um fio de azeite de oliva, ou como ainda se diz azeite
“fino” “de mesa” ou “doce”.
Em Minas Gerais e Rio de Janeiro, o angu preparado apenas
com o fubá de milho e água, sem a adição de sal, e com consistência mais firme,
é conhecido como "angu mineiro".
Quando preparado de forma mais
cremosa, para ser misturado com miúdos de vaca e porcos na hora de consumo, é
conhecido como "angu à baiana"sendo o preparo dos miúdos de vaca e de
porco é bem semelhante ao do sarapatel,talvez remetendo ao costume da mercancia
nas ruas da Bahia em séculos passados.
Os zungus foram lugares muito importantes para escravizados e libertos do Rio no século XIX. Formavam uma “comunidade invisível” de solidariedade.
Nas línguas de tronco banto, zungu pode ser entendido como “toca” ou “buraco” (língua quimbundo); ou “casa de angu”, pela junção das palavras “nzu” – que quer dizer casa – e “ungu” – uma aproximação com a palavra angu (língua kigongo). No Rio, os zungus eram espaços localizados na região central da cidade, que serviam de moradia, local para práticas religiosas, festas, capoeira e como esconderijo de escravizados em fuga.
Na cidade do Rio de Janeiro, continuando a tradição das
vendedoras de angu do século XIX, ficou famoso, entre as décadas de 1960 e
1980, o Angu do Gomes, uma rede de carrocinhas ambulantes pertencentes ao
português conhecido como "velho Gomes" que vendia apenas o "angu
à baiana".
Com preços populares, a rede fazia sucesso nas noites e
madrugadas da cidade.
Havia carrocinhas na Praça Quinze de Novembro junto à
Estação das Barcas, no Centro; na Praça do Lido, no bairro de Copacabana; e em
frente ao estádio do Maracanã nos dias de jogo de futebol.
A partir de 1977, a
tradição do "angu do Gomes" foi continuada pelo filho do velho Gomes,
João Gomes, que inaugurou um restaurante no bairro da Saúde intitulado
"Angu do Gomes”, com cardápio baseado na receita do famoso angu.
Na primeira metade do século XIX, o artista e cronista
Jean-Baptiste Debret, em “Voyage pittoresque et historique au Brésil”, descreve a
venda do angu de farinha de mandioca:
“O angu, iguaria de consumo generalizado no Brasil, e cujo
nome se dá também à farinha de mandioca misturada com água, compõe-se no seu
mais alto grau de requinte, de diversos pedaços de carne, coração, bofe,
língua, amígdalas e outras partes da cabeça à exceção do miolo, cortados miúdos
e aos quais se ajuntam água, banha de porco, azeite dendê, cor de ouro e com
gosto de manteiga fresca, quiabos, legume mucilaginoso e ligeiramente ácido,
folhas de nabo, pimentão verde ou amarelo, salsa, cebola, louro, salva e tomates;
o conjunto é cozido até adquirir a consistência necessária.
Ao lado da marmita
do cozido, a vendedora coloca sempre outra para a farinha de mandioca molhada.
A mistura, servida convenientemente, lembra a primeira vista, um prato de
arroz, recoberta de um molho marrom dourado de onde emergem pequenos pedaços de
carne. Eis a iguaria, aliás, suculenta e gostosa, que figura, não raro, à mesa
das brasileiras tradicionais de classe abastada que com ela se regala, embora
entre chacotas destinadas a salvar as aparências e o amor próprio.”
Esse angu, relatado por Debret, era uma comida de escravos,
cujos trabalhos e maus-tratos que sofreram foram registrados nas aquarelas do
pintor.
Saint-Hilaire também descreve esse angu (1816), em Minas Gerais, como
uma "espécie de polenta grosseira" que era o principal alimento dos escravos.
A venda do angu pode se mostrar de importância ao se saber
que o Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, em 10 de julho de 1835, estampava o
seguinte anúncio: "Participa-se aos que vendem angu, que na Rua dos
Ourives n. 137, se acha a venda azeite de dendê fresco, em barris, a 1$200 cada
medida".
Angu na
Lusofonia.
Em São Tomé e Príncipe, na costa da África, faz-se o angu de
banana.
Levado para a Europa pelos conquistadores da América, o
milho acabou se incorporando a diversas culinárias da Europa.
@elcocineroloko
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