Curiosa Carta de um Aprendiz de Alfaiate à sua Namorada em 1921
Farto em expressões, vocábulos e referências à lida diária desses profissionais, o texto era assinado pelo “senhor” Pafúncio Famegão Eleuthério, logicamente um pseudônimo.
Confira:
Minha fazenda
Passei hoje o dia sem dar um ponto com saudades tuas, o coração trespassado pelas agulhas da tua indiferença, a alma cosida de amarguras, a cabeça como uma almofada de alfinetes, os pensamentos sem fio, tudo isso por motivo do pouco caso que ontem me mostraste!
Casemira de minha alma, as tuas faces são macias como a seda de forro ou como o astrakan das golas que eu pesponto; teus cabelos são como novelos de retrós preto! Teus olhos reluzem como botões de ônix. Tua cinturinha não mede 25 pontos! Teus pés são como dois ferros de engomar que abraçam meu coração! Teus dedos como canudinhos de retrós cor de rosa! Teu talhe é digno de uma casaca de pano fino, forrado de seda.
Ah!, minha querida Casemira, não desprezas o teu amante, não lhe corte as esperanças que tem de que um dia serás tua! Se isso intentas, fazes antes do meu coração bainha e atravessa-o com a agulha da tua ingratidão. Já me sinto afogar nas mangas da tua maldade, sepultar-me nas abas da tua indiferença.
O coração, d'antes intumescido com os enchimentos das esperanças, faz rugas dolorosas que nem o ferro mais quente pode tirar. Volta, Casemira, a olhar para mim, verás como tratarei de fazer casas em que habitaremos juntos, constantes, amantes e delirantes. Deste teu admirador que alinhavou esta às pressas.
Autor Pafúncio Famegão Eleuthério (16 de abril de 1921)
@elcocineroloko
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